Empresas investigam vida dos funcionários pelos sites de relacionamento
Thallyta Chayane
Cada vez mais empresas utilizam as redes sociais para observar a opinião e a postura dos funcionários. Muitas vezes, o que os colaboradores expressam no meio virtual gera demissões. E isso pode afetar muita gente, já que o Brasil é um dos paises que mais acessa sites de relacionamento, tendo 87% dos internautas acessando redes sociais segundo o Ibope Inteligência.
Felipe* sofreu as consequências do mau uso das redes sociais. Ele conta que foi demitido de um escritório de contabilidade porque postou a seguinte mensagem no Twitter: “Não aguento mais, vou ficar louco, preciso de férias!” De acordo com ele, a mensagem era um simples desabafo. Mas a contadora e chefe de Felipe, Sara* que o seguia na página, disse que a “twittada” foi uma ofensa ao escritório. Segundo ela, a mensagem postada teve um tom mais forte. “Eu me lembro exatamente como era: ”Não agüento mais, a escravidão acabou! Tô louco! Quero férias!”
A contadora disse que, quando leu a mensagem, ficou furiosa, imprimiu a página do Twitter e chamou Felipe à sua sala. Colocou as folhas sobre a mesa e disse: “Parabéns. Você ganhou férias, mas por tempo indeterminado”. A empresa o demitiu por justa causa, pois entendeu que a mensagem denegriu a imagem do escritório. “É como se nós não respeitássemos os direitos do trabalhador”, afirma.
A advogada trabalhista Rosimeire Dayrell afirma que as empresas podem demitir funcionários por justa causa, quando há quebra o sigilo de dados empresa. Falar mal do quadro de funcionários, e desrespeitar seu superior por meio das redes sociais também pode gerar demissões. No entanto, a empresa deve provar a falta cometida, que pode ser escrita, impressa, por imagem ou com o depoimento de testemunhas. “Aconselho as pessoas a deixarem os comentários maldosos sobre o trabalho para rodas de amigos.”
Mensagens postadas em redes sociais geraram problemas também no curso do Centro de Ensino Técnico da Academia da Polícia Militar (PM) de Belo Horizonte (MG). Um aluno da PM, que prefere não se identificar, conta que um colega de classe disse na comunidade do curso no Orkut que as aulas e as atividades estavam “um mel, muito fácil, moleza”. De acordo com ele, os coordenadores do programa viram a mensagem e puniram todos os alunos. A assessoria da PMMG informou que o aluno foi punido, pois “expôs a corporação”, e agiu de má fé ao comentar sobre o curso.
Empresa
“O acesso a redes sociais e e-mails particulares é restrito aqui”, conta Cornélio Sebastião, chefe do departamento de recursos humanos da Cooperativa Agrícola de Unaí (Coagril), em MG. Ele diz que a empresa já teve problemas com o uso da internet. Um funcionário divulgou informações sigilosas da cooperativa em nome do departamento pessoal. Outro acessou páginas de conteúdo pornográfico, o que danificou sistemas da empresa e culminou na perda de arquivos importantes. O RH conta que a empresa advertiu o primeiro funcionário e o transferiu de setor. O segundo foi demitido, e certos sites foram proibidos.
De acordo com ele, a Coagril possui um regimento interno, que define regras quanto ao uso das redes sociais, e deixa claro para os empregados as regras e as punições. Por exemplo, se o colaborador acessar qualquer rede social no horário de expediente, será advertido duas vezes. Na terceira, será demitido por justa causa.
“Para contratar um funcionário, as empresas rastreiam informações sobre o candidato. Elas pesquisam desde comunidades das quais ele participa e até os comentários feitos nas diversas redes sociais”, diz a advogada Rosimeire. Ela afirma que o departamento pessoal das companhias tem o direito de monitorar a vida virtual dos funcionários, “desde que seja para garantir a segurança delas”.
*Nome fictício para preservar a identidade dos entrevistados
O administrador de empresas Robson Fontana fala sobre como as redes sociais podem interferir no ambiente de trabalho.